Viver uma vida é espetacular. Digo viver com prazer, intensidade e alegria, para isso, ter a sorte de termos família, paixões, um trabalho que nos enriquece e traz felicidade. Claro que muitos dizem que a sorte dá trabalho e não deixa de ser verdade, mas até que ponto é trabalho sermos remunerados para fazer algo de que gostamos? Nesta matéria, os desportistas de topo são uns privilegiados, mas também nós, o resto da humanidade sem especial talento desportivo, poderemos competir ao mais alto nível com os mesmos níveis de satisfação.

Tenho origens alentejanas e sou oriundo de uma família de classe média suburbana. Andei sempre em escolas públicas e pratiquei hóquei em patins e basquetebol na antiga CUF no Barreiro. Na família, tanto quando sei, fui o primeiro que me licenciei, no caso em Economia do ISEG. Escolhi economia, porque desde pequeno ver o telejornal aborrecia-me porque não percebia as notícias. Eram estranhas aquelas palavras, como deficit, inflação, poder de compra. Decidi que tinha de entender desses temas.

Entrei para a faculdade em 1987 e fui sempre aluno de última fila, exceto a uma disciplina: análise económica, superiormente ministrada pelo saudoso Francisco Pereira de Moura. No final do ano, dirigi-me ao professor e cheio de coragem perguntei o que deveria seguir, Economia ou Gestão (o primeiro ano tinha tronco comum). Ele fez uma pausa, olhou para mim e disse-me: “Rapaz, se queres aprender escolhe Economia, se queres ganhar dinheiro, vai para Gestão”. Eu obedeci e lá fiz o curso em cinco anos em Economia com uma média final de 11,5 valores.

Claro que participei em tudo o que havia, desde a comissão de finalistas, até à organização de festas, foram bons aqueles tempos e fundamentais para o profissional que hoje sou e valores que defendo.

Foi no quarto ano, em 1991, que participei num estágio promovido pela AISEC e de Madrid trouxe a ideia para o que seria a primeira empresa de custódia e gestão de arquivos em Portugal. Era tão simples que até a mim me fazia confusão ainda não existir nenhuma por cá! Trata-se de guardar os arquivos dentro de caixas de cartão em grandes armazéns na periferia das cidades. Parece-me, ainda hoje, que as vantagens são imensas para as empresas, organização, espaço, segurança, etc.

Com o final do ano e a minha média final de curso, cedo percebi que no mercado tinha pelo menos 300 licenciados do ISEG há minha frente e tinha, portanto, de me fazer à vida. Ainda assim, fui a uma entrevista de emprego no Continente da Sonae em Alfragide, em boa hora não me selecionaram…

Decidi que isto de entrevistas era perda de tempo e tinha mesmo de arriscar, arriscar com a irreverência de quem é novo e não pensa muito nas consequências.

É nesta altura que começa a minha “sorte fabricada”. Em 1992, o CPIN – Centro Promotor de Inovação e Negócios e o BIC – Bussiness Inovation Center de Lisboa, realizam uma apresentação na faculdade para motivar os jovens para fundarem os seus próprios negócios. Eu, mais uma vez da última fila, levanto a mão e digo: “Tenho uma ideia para uma empresa que guarde o arquivo morto das outras empresas”. O CPIN desde logo o aprovou. Foi assim que, em maio de 1993, fundei a EAD em conjunto com dois colegas de curso.

Nome: Paulo Veiga
Função: Fundador & Ceo da EAD – Empresa de Arquivo de Documentação.
Idade: 49 anos
Habilitações literárias: Economista, ISEG & Pós-Graduado em Ciências Documentais, variante arquivo, pela Faculdade de Letras de Lisboa.

Formador nas áreas da Gestão e Ciências Documentais.

Foi diretor nacional da ANJE, desde Maio de 1999 até 2000.

Paulo Veiga venceu ainda a edição portuguesa do ano 2000 do prémio JEE Prémios Europeus para o Espírito empresarial na categoria de Melhor empresa Europeia Inovadora.

Foi Presidente nacional, em 2008, da JCI Portugal – Federação Mundial de Jovens Líderes e Empreendedores, presente em 115 países e com mais de 220.000 associados.

Adepto ferrenho do Benfica desde sempre, Paulo Veiga é vice-presidente da Associação das Casas do Benfica e Presidente da Casa do Benfica de Palmela desde 2008

A Companhia instalou-se no Barreiro, no Parque Industrial da Quimiparque, numas instalações que garantiam condições de segurança e de confidencialidade para se efetuar a Custódia e Gestão de Arquivo dos clientes. Em dezembro de 1997, fruto da expansão do negócio e da própria necessidade de melhorar as suas condições de funcionalidade, a EAD mudou-se para Palmela, onde hoje ainda estamos, e expandiu depois para o norte e regiões autónomas.

Pelo meio, há tantas histórias, como o primeiro cliente, a primeira recolha de arquivo, ou a máquina de escrever comprada num leilão, na qual anulei a primeira fatura para o cliente não perceber que era a primeira que emitia. Hoje, está exposta numa moldura na EAD.

A primeira recolha de arquivo do primeiro cliente ficará para sempre na memória. Alugar uma carrinha, convidar um amigo para ajudar e usar uma das melhores capacidades que os portugueses têm, o desenrascanço ou num português mais formal, a elevada capacidade de improviso. Aliás, percebi logo que a minha vida não ia ser fácil assim que o elevador avariou no primeiro dia e tivemos de descer quatro andares com as caixas na mão.

Têm sido anos maravilhosos com altos e baixos, mas sempre desafiantes. Diria mesmo que o nosso êxito assenta numa forte cultura para a eficiência, na valorização do capital humano e na minha capacidade de focus. Muitas vezes os empreendedores tendem a zingarear entre ideias ou projetos, não há mal nenhum nisso, mas como na maioria das coisas na vida, é preciso dar tempo ao tempo para que os projetos se ajustem ao mercado e sejam um sucesso – e as novas gerações são por natureza impacientes.