Um artigo que procure juntar no título pastelaria e economia pode desafiar o interesse da sua leitura. A verdade é que a organização e funcionamento de uma pastelaria pode demonstrar, com clareza e ironia, muitos dos princípios de funcionamento de uma economia. Vamos lá fazer esse ensaio, até porque num ano onde a economia portuguesa vai, mais uma vez, marcar passo, sem crescer, é preciso percebermos do que estamos a falar, no caso com uma analogia.

Como enquadramento posso dizer que, apesar de toda a ampla literatura disponível, ainda há pessoas que genuinamente acreditam que a economia é um jogo de soma zero, isto é, que para algumas pessoas ganharem outras têm necessariamente de perder.

Tais pessoas acreditam que a economia seria uma espécie de bolo, cujo tamanho é fixo e representa toda a riqueza disponível. Sendo assim, cada indivíduo que se apodera de uma fatia está, na realidade, a subtrair a fatia de outra pessoa.

Os americanos usam uma expressão engraçada para afirmar que algo viola o princípio axiomático da não-contradição, deduzida e descrita por Aristóteles há mais de 2300 anos: “You cannot eat your cake and still have it”, (“você não pode comer o seu bolo e tê-lo”).

Dificilmente se ouve isso em Portugal, é ou não é? Não somos muito afeitos ao pensamento aristotélico no que diz respeito à Teoria da Realidade (metafísica) nem à Teoria do Conhecimento (epistemologia).

Prova disso é que a sociedade portuguesa, através dos seus iluminados líderes, criou um sistema político-jurídico-económico baseado na crença de que se pode comer o bolo e tê-lo.

Aqui, onde impera o princípio da contradição, queremos criar riqueza taxando a sua produção. Queremos acabar com o problema da pobreza valorizando o pobre e não quem cria empregos, os professores que educam e são, portanto, a solução. Queremos estimular o empreendedorismo, premiando políticos, burocratas e corruptos, que não correm riscos.

Caros, não dá para comer o bolo e tê-lo. Não tem como dar certo.

Começando pelo princípio, em primeiro lugar, a imensa maioria das coisas, na forma como se encontram no seu estado natural, não nos permite satisfazer as nossas necessidades. Por mais que toda a matéria já exista e esteja disponível na natureza, ela não nos foi dada de uma forma que nos permita satisfazermos as nossas necessidades de uma forma instantânea e direta. A matéria tem de ser trabalhada e transformada por meio do trabalho e de investimentos.

Por exemplo, a madeira das árvores deve ser cortada e processada para a fabrico de casas onde iremos morar; as terras têm de ser aradas e cultivadas para que possamos colher alimentos; o ferro e o alumínio têm de ser extraídos das minas para que seja possível fabricar aviões que irão transportar-nos, bem como as nossas mercadorias de um ponto do globo a outro.

Só é possível criar riqueza quando transformamos coisas.

Em segundo lugar, a incapacidade dos objetos no seu estado natural de satisfazer diretamente as nossas necessidades advém do facto de que nem sequer conhecemos todas as suas combinações e usos possíveis. A tecnologia, que é a arte de combinar e ordenar a inovação (que não é mais do que uma invenção com retorno económico, isto é aceite pelo mercado) para que ela produza o resultado desejado, também não nos é oferecida: antes, é preciso investigar e experimentar e muito.
Terceiro e último, por mais adequado que seja um bem em satisfazer as nossas necessidades, ele será totalmente inútil se não o tivermos ao nosso alcance. Temos de saber como o fazer chegar aos nossos clientes. Tudo isto, simplesmente não tem como dar soma zero!

Durante todo o processo de produção de bens e serviços estamos a gerar riqueza, a fazer crescer o bolo: seja quando investigamos como converter coisas em bens, quando, de fato, convertemos as coisas em bens, e quando distribuímos os bens por meio das trocas comerciais.

Ao contrário do que supõem os socialistas – que toda a riqueza já está criada e dada, e que é necessário apenas redistribuí-la – o livre mercado é a única alternativa no qual as pessoas se podem organizar e, com a sua iniciativa, incrementar, ao máximo possível, a produção de bens e serviços e aumentar o tamanho do bolo.

Em conclusão, a economia, e mais uma vez, não é um jogo de soma zero, mas sim um jogo de saldo positivo e expansivo – a menos que o Estado entre em cena e se aposse destes ganhos. E aqui o caso português é exemplar com a elevada carga fiscal, taxas e taxinhas, por tudo e por nada, frustrante, desmotivador e inibidor para quem tem o fermento do crescimento na mão e não tem ingredientes nem fôrma, nem forno, nem nada.

Sim, o bolo não é oferecido e não possui tamanho fixo. Pelo contrário: ele cresce, desde que tenha fermento, bons ingredientes e seja apetecível e permita fatias cada vez maiores para todos – exceto se o Estado entrar em cena e gulosamente abocanhar uma grande fatia.

PS: este artigo não foi escrito pelo ChatGPT

Paulo Veiga, CEO da EAD

(in Pastelaria & economia (dinheirovivo.pt))